Fantasia cotidiana
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por Pedro Brandt
O prêmio de revelação dado em 2009 a Bastien Vivès no
Festival de Angoulême — evento francês dentre os mais relevantes para as
histórias em quadrinhos na Europa — colocou em evidência o talento do jovem
autor e da obra pela qual ele foi premiado na ocasião, O gosto do cloro (Le
goût du chlore). Publicada originalmente em 2008, ela acaba de chegar ao Brasil
pelo selo Barba Negra (ligado à editora Leya). Independente de distinções e
honrarias, o trabalho merece ser conhecido por seus méritos próprios. É, desde
já, um dos melhores lançamentos do ano.
Amizade na água
Em nenhum momento da HQ são
apresentados os nomes dos personagens e as informações sobre eles são
praticamente inexistentes. Nem precisaria ser diferente, já que no desenrolar
da breve história os poucos diálogos são o suficiente para causar empatia.
A HQ começa em uma sessão de
fisioterapia. O protagonista é aconselhado a praticar natação para melhorar seu
problema nas costas. A pouca habilidade para nadar, a solidão na piscina (e o
tédio decorrente dela) fazem com que ele pense em desistir.
A situação muda quando o
personagem finalmente conhece uma nadadora. O rapaz já a observava havia algum
tempo. A moça o ajuda com dicas sobre natação. Ele quer conhecer um pouco mais
sobre ela, faz perguntas. Ali na piscina, nasce uma amizade. Eles brincam,
nadam e conversam. A natação, antes um fardo, ganha outra dimensão na rotina do
protagonista.
A partir de um determinado
momento na narrativa, preencher as lacunas deixadas por Bastien Vivès fica a
cargo do leitor. Um relato bastante cotidiano até então, O gosto do cloro
ganha, nas últimas 21 páginas, leves ares de fantasia. A sequência final — que
pode ser encarada como uma metáfora sobre o inalcançável — é de tirar o fôlego,
literalmente.
O gosto do cloro
De Bastien Vivès. 144 páginas.
Barba Negra/ Leya. R$ 39,90.