HQ em um quadro: Cebolinha ensina "the way of the macho", por Maurício de Sousa ©





















Cebola dá o fora na Mônica com a típica evasiva masculina (Maurício de Sousa ©, 2011): Dia desses estava no supermercado e, na fila do caixa, me deparei, já atrasado, com a famosa "HQ mais vendida nas américas em 2011". Peguei aquele gibi lacrado, com um desenho do "Cebola" e da Mônica dando um beijo não tão molhado assim (tão de lábios fechados, pô!) sob afrodisíaco luar, e vi o preço: R$ 6,90. Parecia razoável por "Turma da Mônica Jovem - em estilo mangá", já que o acabamento é cuidadoso e tem 130 páginas. Pensei que, pra dar uma detonada, é preciso ler o material, mas nem vale a pena (detonar). De fato, a qualidade como HQ (mesmo pra tweens) é duvidosa e tive muita dificuldade em ler até o final (quem me conhece sabe que sou tolerante), mas o projeto editorial é bem pensado, a mercantilização do negócio segue a tendência correta e, em certos momentos, há que se dar o braço a torcer. 

Porém, estes dois quadros aí de cima, fora de qualquer planejamento, corrompem a programática de previsibilidade capitalista do Maurição. Afinal, vamos pensar juntos: "Turma da Mônica Jovem - em estilo mangá" deve ser uma das coisas mais supostamente politicamente corretas no mercado editorial. Você abre uma página e já lê: "Uma nova aluna do Colégio do Limoeiro mostra que problemas com o peso podem não estar na balança, mas na cabeça..." - ora, pela silhueta da personagem, ela deve estar tendo problemas na cabeça sim, mas com a cabeça de baixo do namorado. Mesmo assim, tem essa coisa inclusiva de classe média culpada, procurando abrir portas pra uma juventude saudável e companheira, que vem nos assombrando desde a estreia de "Malhação". Apesar de uma "token" gordinha, todo o resto é um bando de gente bonita (quando vi o "Tonhão da rua de baixo" versão teen, fiquei de cara), tipo "geração Z, classe A-B". Não tem um flácido, um feioso, uma magrela, um zarolho... e não vi nem cheiro de um negro, um gay ou um maconheiro. O Cascão tem toda pinta de maloqueiro, mas mesmo assim é um recalcado e domesticado, e as garotas gostam dele mesmo fedido. O cadeirante da turma (token) também parece um modelinho teen, Bieber-like

Então, por quê este Cebolinha - ops, Cebola - mandando um "eu não menti, eu omiti" parece uma falha nesse sistema? Ora, eu acho que o roteirista em questão não se deu conta de que essa é uma bravata masculina que nos acompanha desde nefastos e machistas tempos arcaicos, significando que atos reprováveis do ponto de vista feminino tornam-se menos reprováveis quando, ao invés de revertê-los em inverdades, simplesmente os omitimos. Sair pra uma cervejada, pular a cerca, não discutir uma nova proposta de trabalho, ir no cinema sozinho, flertar pela internet, voltar a fumar escondido, etc, tudo se torna justificável por meio deste imenso guarda-chuva evasivo que é o "eu não menti, eu omiti". Essa é a verdadeira razão para caras sacanas e caladões parecerem tão atraentes no imaginário feminino: eles não podem dizer nenhuma de suas verdades escrotas, então omitem tudo. Depois disso, Mônica, ainda vai querer continuar com esse babaca? A história desse chiste editorial já dá a deixa: vai se dar mal. Tem que ver isso aê. (CIM)

Os adoráveis Gogo’s da Turma da Mônica




por Pedro Brandt

A colaboração de Mauricio de Sousa para os quadrinhos no Brasil tem vários méritos, mesmo que eu encontre muito mais motivos para criticar do que para elogiar sua atuação na área (escrevo sobre isso futuramente). Independente disso, Maurição sempre foi um grande homem de negócios. Ainda assim, acho que ele explorou muito pouco o potencial de seus personagens em outros produtos. Um exemplo: alguns aeroportos brasileiros têm lojas da Turma da Mônica, com roupas, cadernos, canecas, chaveiros, pôsteres, brinquedos e tantos outros itens com a estampa da turminha. Mas tente entrar nessas lojas e encontrar algo realmente interessante para comprar! A não ser que você busque um presente para uma criança pequena, sairá de lá com as mãos abanando. Para não ser injusto, lembro de algumas coisas (não verdade, não lembro exatamente o que) com desenhos dos personagens feitos pelo Nicolosi (o melhor desenhista que já passou pelos Estúdios Mauricio de Sousa). Isso eu achei até legal! Mas é pouco se você parar por cinco minutos e pensar no tanto de coisas legais que poderiam – e não são – feitas com todos esses personagens que o Brasil conhece e ama.

E se formos parar para pensar, os gibis da Mônica não são lidos apenas por crianças. Quantos adultos você já não viu lendo uma revistinha dessas no ônibus, na fila do banco, no consultório do dentista, no banheiro? Quantas e quantas vezes já não ouvi alguém dizendo, “não gosto de quadrinhos, mas leio Turma da Mônica até hoje”?


Acho necessário esse blá-blá-blá todo para introduzir o assunto desse post. De uns tempos pra cá, os produtos com a marca Mauricio vêm chamando a minha atenção de maneira muito mais positiva (conceitualmente) e atraente (me disponho a comprá-las).

Primeiramente, tenho percebido isso nas bancas. Qual não foi a minha surpresa ao ver Cascão Porker, uma paródia a Harry Potter! E com desenhos do Nicolosi! Por uma edição que fosse, pude ver uma revista da turma da Mônica como eu queria: com desenhos vivos, uma narrativa fluente, um colorido que sai do chapado convencional e um humor menos óbvio e primário.

Em segundo lugar, a série MSP 50 é um dos grandes acontecimentos recentes dos quadrinhos no Brasil. A terceira edição da série foi lançada recentemente na Bienal do Rio. Nos três números, temos um retrato amplo, eclético e abrangente de diferentes gerações de ilustradores e quadrinistas brasileiros. Álbuns com acabamento cuidadoso, tiragem grande e distribuição nacional. Uma autêntica coletânea da produção de quadrinhos no Brasil – e se nem tudo ali tem qualidade para fazer valer a vaga em um dos três volumes, a série tem valor histórico pelo apanhado que faz. Méritos de lado, o salgado preço da capa poderia ser mais convidativo.

Mas se tem uma coisa que Mauricio fez e conquistou o meu coração de imediato foi a versão da Turma no estilo da série Gogo’s. Os Gogo’s Crazy Bones são uma coleção de toy art para as massas, por preços super acessíveis – o público alvo são as crianças, não teria como ser diferente. Esses brinquedinhos são como as figurinhas do século 21.

A parceria com a empresa dos Gogo’s rendeu belos designs para os bonecos. Eles são modernos, mas reverentes aos originais, ainda que não se pareçam com nenhum traço já usado para alguma coisa da Turma da Mônica. Têm algo de mangá nas linhas, algo de desenho animado. Como as peças são muito pequenas, o desenho dos personagens tem que ser minimalista, sintético. E se alguns personagens não ficaram tão imediatamente reconhecíveis (caso do Xaveco), outros são uma mini-versão muito da bonitinha das criações de Maurício.

Aliás, o próprio pai da Mônica virou boneco. E um dos mais legais da coleção. O design ficou tão bom, que eu acho uma pena as figurinhas que acompanham os bonecos apresentarem apenas fotos dos bonecos ao invés dos desenhos que servem de base para os toys (estes estão no próprio álbum e na bela contracapa).

Cada envelope traz dois bonequinhos e quatro cromos e custa menos de R$ 3. A minha coleção cresce dia a dia. Quem quiser trocar uns repetidos, se manifeste aí na caixa de comentários.