Todas as Pedras no Fundo do Rio: não há segunda chance nesta vida

Todas as Pedras no Fundo do Rio: não há segunda chance nesta vida

por Ciro Inácio Marcondes

Eu gostava de pensar que Wagner Willian era o mais felliniano dos quadrinistas brasileiros. Porém, se tem uma coisa de que não se pode acusar o velho Wagner, é de que ele se repete. O Maestro, o Cuco e a Lenda elaborava a memória (tal qual o mestre italiano) num prisma de invenção e delírio, algo que também vamos achar em Silvestre, mesmo que em outra chave. Mas eis que chega este Todas as Pedras no Fundo do Rio, cuja proposta inicial era adaptar (subvertendo) o filme A Felicidade Não se Compra (1946), de Frank Capra, e embola tudo.

Este novo livro, um épico de mais de 200 páginas lançado pela editora do autor (Texugo) junto com o Páginas Amarelas, é um fato novo na carreira de Wagner. Ambicioso, atravessando épocas, personagens e tramas paralelas, ele parece ser também o seu esforço em dotar uma narrativa mais clássica de potência de linguagem, de deixá-la se incorporar às necessidades do roteiro, beirando a quase total exaustão.

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Melhores leituras de 2021 - Ciro I. Marcondes

Melhores leituras de 2021 - Ciro I. Marcondes

por Ciro I. Marcondes

2021 foi um ano bastante agitado para mim. Me vacinei 3 vezes, tive um irmão internado na UTI com covid, amigos se foram, lancei um livro e me mudei de país. Fora muito trabalho acadêmico e tudo o que fizemos na celebração dos dez anos da Raio Laser. Não me surpreenderia se, diante de tantas urgências, eu não tivesse lido quadrinho nenhum. Porém, na verdade li muitos e resolvi selecionar cada um dos que me causaram impacto, seja por sua origem cultural, por seu desenvolvimento formal, sua atualidade, sua importância histórica, etc. O critério é esse: ter me tocado em um ano atribulado. Segue a lista com 17 obras resenhadas com algum capricho, sem ordem de importância ou qualidade. (CIM)

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RAGU 8: TEMPERO EXPERIMENTAL PARA PALADARES ÁCIDOS

RAGU 8: TEMPERO EXPERIMENTAL PARA PALADARES ÁCIDOS

por Ciro Inácio Marcondes

O ragu é um molho feito com a redução extrema do tomate, e vai muito bem com a deglaçagem, com vinho tinto, da carne de porco na panela. Sabores fortes, amigo. Uma delícia dos paladares mais brutos que acompanha muito bem massas diversas. E esse Ragu é justamente o nome da já clássica publicação pernambucana que teve seus primeiros números no início dos anos 2000, e não saía desde 2009, quando foi publicado o número sete.

Pois a Ragu está de casa nova, e um novo número foi lançado em julho de 2021 pela Companhia Editora de Pernambuco (Cepe), sob quíntupla editoria: Diogo Guedes (Cepe), os artistas João Lin e Christiano Mascaro, a tradutora e editora Dandara Palankof (também da Raio Laser) e o jornalista Paulo Floro (revistas O Grito e Plaf). O resultado é um livraço em Off-set cuidadosamente pensado para dar cabo das ansiedades estéticas, políticas e discursivas de pelo menos umas três gerações de artistas que se encontram aqui, na tábula rasa da experimentação.

Mas será mesmo uma tábula rasa? É certo que boa parte dos 41 artistas dispostos na longa e democrática perfilação da revista (com devida diversidade de gênero, raça, etc.) se dedicam a uma proposta outra do visível, esmigalhando disposições tradicionais de quadrinhos em estilhaços de linguagem, granadas conceituais, deformando tempo, espaço, narrativa, tudo. A capa e quarta capa, por exemplo, do artista alemão Henning Wagenbreth, funcionam como panópticos construtivistas com imagens sugestivas, sem ordem definida, numa livre associação de formas, palavras, gestos e ideias. Margeia o design, margeia um tipo de anti-publicidade, uma conflação do pop com a abstração.

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Lançamento mundial de ZIP - QUADRINHOS E CULTURA POP

Lançamento mundial de ZIP - QUADRINHOS E CULTURA POP

É isso mesmo que você leu. Não importa em qual parte do mundo você esteja, se você não pôde ir ao lançamento presencial do livro ZIP - QUADRINHOS E CULTURA POP, ele vai até você!

O livro é o compilado de uma cuidadosa, criteriosa e melhorada seleção de textos críticos sobre quadrinhos e adjacências escritos para a coluna ZIP, do portal Metrópoles, por Ciro Inácio Marcondes, fundador e editor da Raio Laser.

Nesta quinta-feira 28.10, às 19h, acontece um bate-papo no perfil do @metropoles no Instagram entre o autor e três convidados especiais: Daniel Lopes, editor e sócio-fundador da editora e do canal Pipoca & Nanquim; Márcio Paixão Jr, editor da MMarte, cineasta, roteirista de quadrinhos e autor do texto de orelha do livro; e Pedro d'Apremont, quadrinista e ilustrador, responsável pela capa da obra.

ZIP POR AÍ - VEJA POR O LIVRO JÁ ANDOU ATÉ AGORA:

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Eu Não Preciso de Mais Nada: existencialismo de videogame ou a crisálida de Gabriel Dantas

Eu Não Preciso de Mais Nada: existencialismo de videogame ou a crisálida de Gabriel Dantas

“Meu primeiro contato com a morte foi no colégio”, diz o recordatório do requadro de um certo zine “Viagens Rumo ao Esquecimento”, que Gabriel Dantas publicou ainda em 2017, quando tinha (possivelmente) 17 ou 18 anos. Nesta história, seu personagem se insere num ambiente juvenil-escolar (como tantas e tantas vezes vai repetir em seu trabalho futuro, especialmente em seu Instagram @bifedeunicornio) para recordar o falecimento, no meio do bimestre, de um professor querido, algo que talvez reverbere na memória de muita gente que vá abrir esse volume impresso Eu Não Preciso de Mais Nada, em que a Ugra Press coleta aquilo que o Gabriel produziu entre 2017 e 2019.

Esse primeiro zine era bem rudimentar e primário (lembra um exercício) e eu já estava achando que a editora havia investido num material inferior ao publicado na internet quando essa história específica do professor derreteu minha retidão de crítico. Talvez isso tenha a ver com o fato de eu ser também professor, mas acho que na verdade o que ocorreu ali foi o ato de realizar uma leitura do nascedouro da dupla orientação que Gabriel Dantas iria levar para o resto dos seus quadrinhos: um conflito (explorado de maneira tresloucada e hilária) entre um jeito bobo de ser, estilo adolescente videogueimeiro, e uma dor existencial lancinante, irresistível para qualquer um que vá ler seu material. E estes dois aspectos ficam vazando um para o outro até que você não saiba exatamente se está rindo ou chorando. Uma forma meio “palhaço triste” de crescer e entender o mundo ao seu redor.

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HQ EM UM QUADRO: As vicissitudes do TOC em Binky Brown. Por Justin Green.

HQ EM UM QUADRO: As vicissitudes do TOC em Binky Brown. Por Justin Green.

As pessoas acham o TOC meio engraçado (virou até gíria) porque muita gente manifesta suas obsessões em compulsões motoras e funcionais, tipo contar degraus, só vestir determinada cor, abrir e fechar uma porta dezenas de vezes, arrancar os próprios fios de cabelo, etc. Acontece que isso aí é apenas a ponta do iceberg de uma verdadeira máquina de Goldberg mental muito troncha e zoada, em que você, plenamente consciente do quão absurdo é tudo isso, precisa executar inúmeros rituais mentais antes que eles passem para o mundo físico. Eu mesmo não conto degraus, nem tenho rituais práticos (as compulsões em si). Tudo se passa, de um jeito caótico relacionado a questões histriônicas de controle, dentro da mente. E é assim que a gente sofre, numa incomensurável solidão, porque os fenômenos do TOC são tão complexos, abstratos e diversos, que é extremamente difícil comunicá-los, mesmo pra um psiquiatra.

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HQ BR - Resenhas expressas!

HQ BR - Resenhas expressas!

por Ciro I. Marcondes

Um belo dia resolvi que seria muito legal escrever “resenhas expressas” de quadrinhos brasileiros em textos que partam de uma única premissa - ou seja, a análise metonímica - para tentar capturar, mesmo que brevemente, a potência e movimento destes artistas. Seguem então os seis textos derivados desse pequeno experimento, e acho interessante que sejam lidos na ordem. (CIM)

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