Tendo praticamente a mesma idade de Gabriel Góes, vi, vivi e consumi – intensamente – muitas das mesmas paixões dele. Não foram poucas as vezes, por exemplo, que conversamos sobre bonecos – action figures, se você preferir. Até hoje, quando nos encontramos, ele me cobra uma visita ao meu acervo de figuras de ação – que, nos últimos anos, vem sendo, pouco a pouco, misteriosamente dilapidado. Estariam os seres de plástico fugindo da caixa?
Acredito que o melhor período para os bonecos de ação durou a década de oitenta até meados da de noventa. Depois disso, os bonecos – os de brincar, não os de enfeitar – nunca mais foram tão legais. Estaria eu deixando a nostalgia (sempre ela!) pesar nessa afirmação? Talvez. Mas quem foi criança na época se lembra: He-Man, Comandos em Ação, Thundercats, Super Powers, Rambo, Tartarugas Ninja... O design dos bonecos, a qualidade do material usado, a aplicação de cores e o acabamento, as possibilidades de articulações, os assessórios... E os desenhos animados desses personagens eram hit na televisão, as coleções de brinquedos eram publicizadas nos intervalos comerciais, nas páginas dos gibis, em álbuns de figurinhas e outros incontáveis produtos. Estavam nas vitrines da Mesbla, das Americanas, da Bibabô... Enfim, esse universo estava por todo lado e fazia a cabeça da molecada numa época ingênua e feliz. Deixou boas recordações para mim. E, tenha certeza, deixou boas recordações para o Gabriel – como atesta Soco, seu mais novo trabalho. Publicado pela editora Beleléu, Soco pode ser encarado como um tributo à infância relido sob uma ótica (acidentalmente ou não) pós-moderna. O personagem-título, Billy Soco, é um super-herói genérico – intrépido, superforte e insípido – desses que surgem durante uma aula entediante nas últimas folhas de um caderno do primeiro grau. E, para este Soco, isso basta. Góes, certamente, não quer reinventar o gênero super-herói. Não quer nem mesmo contar uma boa história do tipo.