Cavaleiro da Lua: o herói lunático ainda luta por um lugar ao sol

 Por Marcos Maciel de Almeida

Werewolf by night # 32 (1975): Primeira aparição do Cavaleiro da Lua

Quem lê quadrinhos há algum tempo certamente já ouviu a clássica pergunta: “Qual é seu personagem favorito?” Costumo responder que o personagem não é o mais importante, mas sim o talento do escritor que vai contar as histórias do dito cujo. Por isso, acredito que leitores inveterados como eu tenham mais fidelidade a autores que a personagens. Digo isso porque mesmo personagens aparentemente sem sal podem se tornar interessantes, quando colocados sob a lupa de um escritor sagaz. Estão aí o Starman de James Robinson e o Homem-Animal do Grant Morrison que não me deixam mentir. A recíproca também é verdadeira. Personagens consagrados não são sinônimo automático de boas histórias. Ainda assim, existem personagens que nos cativam de forma instantânea e incondicional, seja por seu apelo visual, seja pelo tipo de narrativa que costumam inspirar. Por ambos motivos, o Cavaleiro da Lua sempre foi um de meus heróis prediletos. O uniforme maneiro, que lhe conferia uma charmosa aura de mistério, e a temática, envolvendo o submundo bizarro da Marvel, viraram paixão à primeira leitura. Pena que o personagem nunca teve muita longevidade nos títulos que envergaram seu nome, desde sua criação em 1975.

Cavaleiro da Lua, o herói quatro em um. O Cavaleiro da Lua deve ser um dos personagens do segundo escalão das HQs com recorde na quantidade de edições número 1 lançadas nos Estados Unidos. Só de séries mensais já teve sete, a maioria cancelada prematuramente. O personagem, infelizmente, não costuma ser sucesso de vendas. Sua série mais recente, que teve como argumentista o queridinho do mercado norteamericano, Jeff Lemire, também foi... consegue adivinhar? Cancelada. Melhor sina mereceria o herói encapuzado, apontado por alguns como o Batman da Marvel. Comparação justa? Vejamos. O Cavaleiro também é um combatente do crime desprovido de poderes. Assim como o Morcegão, conta com um arsenal de apetrechos tecnológicos. Seu auxiliar e funcionário, o Francês, é uma espécie de Alfred que mete mais a mão na massa. Mas as semelhanças param por aí. Por incrível que pareça, o Batman – muitas vezes retratado como um maníaco obsessivo não muito diferente de seus inimigos – pode ser considerado um poço de sanidade perto do Cavaleiro da Lua. Enquanto o Cavaleiro (das Trevas) tem uma vida dupla o outro Cavaleiro (da Lua) compartilha sua vida com mais três identidades: o playboy milionário Steven Grant, o taxista Jake Lockley e o mercenário Marc Spector. E os problemas psicológicos de nosso herói não se resumem a isso. Fazendo uma análise de sua trajetória, pode-se ver que a grande luta do Cavaleiro da Lua caracteriza-se pelo esforço de manutenção de um mínimo de sanidade. E isso não é de hoje.

Desde a fase clássica de Doug Moench, criador do personagem, e Bill Sienkiewicz, já era patente que ele tinha alguns parafusos a menos, fato evidenciado não apenas pela sua divisão em quatro personalidades. Numa minissérie – lindamente desenhada por Tommy Lee Edwards e inédita no Brasil – de 1998, Moench começa a carregar ainda mais nas tintas da esquizofrenia do mascarado. Numa história de alucinação que deixaria Philip K. Dick orgulhoso, o Cavaleiro da Lua é lançado numa realidade de sonho, ilusão e delírio. Outros autores que também exploraram temática semelhante foram Brian Michael Bendis e Alex Maleev, responsáveis pelas doze edições publicadas nos EUA a partir de 2011. Nessa série, o Cavaleiro da Lua sofre nova crise de identidade e passa a acreditar que... Deixa para lá. Não quero dar spoilers. 

Cavaleiro da Lua de Bendis e Maleev

Ironicamente, a fase em que o Cavaleiro volta a apresentar algum sinal de propósito e lucidez ocorre nas seis edições assinadas pelo doidão Warren Ellis que cria, em 2014, novos conceitos, bastante interessantes, para o personagem. Agora ele tem um novo uniforme e um comissário Gordon para chamar de seu. Além disso, passa a se denominar “o viajante noturno”, que seria uma espécie de protetor das almas perdidas na madrugada, vítimas das ameaças de nosso e de outros planos de existência. A fase de Ellis é pura porralouquice. Mostra o Cavaleiro dando porrada em punks fantasmas, descendo até os recônditos do esgoto de Nova York,  e invadindo os sonhos alheios. Aliás, a história do pugilato com punks ectoplásmicos é o suprassumo do que o Cavaleiro da Lua deveria ser: um personagem dividido entre várias personalidades, mas que só encontra a paz quando está às voltas com os becos mais sombrios e sobrenaturais do Universo Marvel. 

Ele seria, portanto, o verdadeiro detetive do impossível, com o perdão da usurpação do epíteto de Martin Mystère. Não que o Cavaleiro deva se restringir a isso. Muito pelo contrário. Ellis sabe disso e utiliza seus vastos recursos narrativos para encerrar sua fase com chave de ouro. Numa história que remete aos grandes momentos de Spirit, intitulada “Espectro”, o Cavaleiro da Lua torna-se mero coadjuvante num conto que revela o efêmero surgimento do novo Espectro Negro, personagem cuja brutalidade só é superada pela própria estupidez. Ah, já ia esquecendo: a fase de Ellis é toda desenhada por Declan Shalvey, que manda bem pra cacete. 

Cavaleiro da Lua: no mundo dos sonhos ou dos pesadelos?”

Bem, tudo que é bom dura pouco e Ellis vazou rapidinho, dando lugar a Brian Wood. E aqui gostaria de abrir um parêntese. É complicado para um personagem evoluir com a frequente mudança de equipes criativas. E para o paciente em questão, o estrago pode ser ainda maior, afinal de contas o Cavaleiro da Lua já não bate muito bem e precisa de um pouco de estabilidade, coitado. Pena que os editores recentes do vigilante nunca sacaram isso e insistiram no troca-troca. A fase de Wood – bastante irregular - durou seis números e, na sequência, o título foi assumido por Cullen Bunn. Também não darei muita moral para a fase deste escritor, que não foi exatamente um primor. Com a honrosa exceção de seu trabalho no conto “Anjos”, ele não conseguiu avançar muito com o personagem. Embora esta história não vá muito além de narrar uma cena de pancadaria urbana entre o Cavaleiro da Lua e bandidos voadores, é importante para mostrar a riqueza de situações em que o herói pode ser aproveitado.

Pancadaria aérea é o que há

A lua do Cavaleiro, que nessa época estava minguante, volta a brilhar mais forte quando uma dupla de responsa assume a revista: o já citado Jeff Lemire e o talentoso desenhista Greg Smallwood. O resultado foi excelente e comprovou minha teoria lá do começo. Está aqui mais uma demonstração de que são os escritores que fazem o personagem e não o contrário. Os bons autores são capazes, dentre outros feitos, de nos fazer enxergar coisas que estavam bem debaixo dos nossos olhos. Exemplo: o que temos de fazer com pessoas loucas e potencialmente perigosas? Internar num hospício. E esse foi o destino de nosso herói, que lá pôde encontrar seu elenco de apoio original: Marlene, Francês e Crawley, há muito ausentes do gibi. E sim, a luta do vigilante pela sanidade continua árdua, especialmente agora que tentam convencê-lo de que o Cavaleiro da Lua nunca existiu. Outro fator que dificulta sua recuperação é o fato de que ele passa a enxergar uma realidade em que Nova York, agora habitada por divindades e criaturas lendárias, se fundiu com o Egito Antigo. Somente foram lançados os primeiros cinco números da fase de Lemire no Brasil, mas o autor já disse a que veio. Espero que dessa vez a coisa engate e...putz, tinha esquecido: a revista foi... (agora você vai acertar) cancelada, depois de 14 edições. 

Quem quiser dar uma conferida no material acima pode procurar as revistas abaixo, lançadas no Brasil pela Panini:

Cavaleiro da Lua – Recomeço – Vols 1 e 2, 2015. (Fase do Brian Michael Bendis)

Cavaleiro da Lua – Vols 1-4, 2015-2017. (Fase do Ellis, Brian Wood, Cullen Bunn e Lemire. Um gibi para cada escritor). 

O Cavaleiro da Lua não parece ter sorte nos quadrinhos e muito menos em seu histórico de publicações. É uma pena, pois o personagem tem muito potencial, como ficou evidenciado quando teve escritores decentes, como Ellis e Lemire. 

Ah, infelizmente, o Cavaleiro da Lua não pode ser considerado o Batman da Marvel, embora existam semelhanças inegáveis entre ambos. Afirmo isso por uma simples razão. O Cavaleiro da Lua passou bem longe da sombra do sucesso do morcego. Se ele tivesse tido, ao menos, 1% do reconhecimento de seu primo rico, a coisa seria diferente. Mas isso seria uma outra realidade. E só nela o Cavaleiro poderia dizer que nasceu virado para a lua. 

O Cavaleiro da Lua de Stephen Platt. Esta imagem está aqui simplesmente porque é muito foda

BONS QUADRINHOS QUE LEMOS EM 2015 - PARTE 2

Olá pessoal da Raio!

Já estamos no ano de 2016 com a marcha engatada.

Mas isso não impede a Raio Laser de fazer uma lista de melhores do ano de 2015

! A minha lista também não pretende ser um levantamento do que foi lançado no ano que findou, mas é uma ajuntado do que eu li de particularmente inédito. Coisas velhas que nunca li, material de 2014 que só pude ler em 2015 e outras coisas que minha vida de trabalhador braçal não me permitiu ler quando lançou. Na minha lista entra um material bem variado, mas também acredito que muita coisa legal ficou de fora graças à minha memória avariada. Até a próxima! (LN)

Parte 1

Parte 3

por Lima Neto

1 - PÍLULAS AZUIS – Fredrik Peeters (Nemo,2015 [2001])

A autobiografia em quadrinhos, um filão lucrativo em produções de qualidade e muitas vezes criticado por seu óbvio ensimesmamento, tem parte de seu valor situado na área indistinta e amorfa em que se interseccionam a biografia do leitor e do autor. Alguns destes quadrinhos, como as Pílulas Azuis de Fredrik Peeters, têm ainda o ponto positivo de abrir ao leitor a possibilidade de experimentar uma alteridade coletiva em que vários cotidianos são apresentados como uma tessitura particular que retrata a fundo um drama pessoal e específico.

Frederik Peeters ainda é um desconhecido por aqui. Por isso mesmo a escolha de publicar seu trabalho biográfico foi bem acertada. O livro trata de sua vida junto com a companheira, Jude, e seu filho, ambos soropositivos.

Pílulas leva o leitor a atravessar uma ponte pouco visitada - aquela que separa a realidade de quem deve conviver com a AIDS e a imagem de desespero e perigo que é rapidamente evocada pelo imaginário da doença. Alternando momentos de sensibilidade e austeridade, Peeters monta uma trama enxuta em que duas grandes qualidades se apresentam como uma arma eficiente contra o preconceito - sobriedade e maturidade.

Mais do que a situação da companheira, é a maturidade das reflexões de Peeters em relação ao seu dia-a-dia que chama a atenção no gibi. Com um pragmatismo sensível, o autor vai expondo seus medos, tanto particulares quanto do casal, e vai demonstrando como que, paulatinamente, a relação dos dois se transforma em um companheirismo sóbrio, consciente da "normalidade anormal" da posição em que se encontram. Sem heroísmos ou melodramas. Ao final somos brindados com algumas páginas feitas anos depois, onde Peeters apresenta seu traço mais atual e realista, em que vemos um depoimento dos familiares envolvidos. Com certeza um dos melhores quadrinhos do ano.

2 - NOVA MARVEL X-MEN #1 a 15 – Brian Michael Bendis & Chris Bachalo (Panini, 2015 [New Marvel Uncanny X-men #1 – 18, 2014])

Já falamos muitas vezes aqui na RL que, quanto mais próximo da realidade um quadrinho de super-herói se posiciona, pior é sua qualidade. A imagem fantasiosa do herói super poderoso se desmonta em perigosos tons reacionários quando confrontada com problemas reais que pedem por soluções reais. A melhor forma com que o quadrinho super-heroístico pode abordar a realidade é sempre através da metáfora... algumas mais diretas que outras, e é assim que um título X consegue entrar nessa lista.

Há vários anos eu deixei de comprar gibis para acompanhar personagens e passei a acompanhar escritores de HQ. Das vezes em que retorno a ler X-Men, é por que algum autor que me interessa está capitaneando o gibi. Depois de ler muitas resenhas, resolvi correr atrás da fase do escritor Brian Michael Bendis. Com seu estilo característico em que mistura diálogos extensos com criativas viradas de roteiro, em X-Men Bendis extrapola a essência do grupo de mutantes no que eles têm de mais poderoso: na metáfora entre a causa mutante e as lutas por igualdade de direitos empenhadas pelos mais diversos grupos civis que se sentem lesados por uma insuficiência social em reconhecer suas diferenças.

Criados em um EUA pós-conflitos por direitos civis, Stan Lee via em seu pacifista Professor X um Martin Luther King, enquanto que a verve belicosa de Malcom X estava presente na atitude terrorista de Magneto. Essa imagem permanecia parcialmente inalterada até alguns anos atrás. Resumindo, porque a parte chata é a novelinha, após uma mega-saga que joga X-Men contra Vingadores (embora a premissa seja simplista, a relação entre minorias VS maioria se torna bastante explicita nessa saga, mas isso fica pra outra hora) e que termina com o personagem líder dos X-men, Ciclope, matando seu mentor Professor X (nenhuma surpresa ai, ele deve voltar em breve como todos os mortos da Marvel) e sendo considerado um terrorista internacional, o grupo se divide entre os que seguem o sonho de Xavier e os que preferem a realidade proativa de Ciclope, que passa a se tornar um ícone da luta mutante. A fase de Bendis é marcada ainda pela chegada dos X-Men originais para o presente, através do plano de um Fera moribundo que serve para confrontar o Ciclope terrorista com sua versão mais nova. É aquela típica confusão mutante pelo tempo, mas que acaba tornando-se um ótimo exercício de caracterização na mão de Bendis. O ponto negativo é a arte, por conta de um cansativo Chris Bachalo, antes um herói indie dos anos 90, agora um desenhista pouco criativo e que parece fora de sintonia com o roteiro na maioria das páginas.

O que importa aqui, e o que faz o titulo entrar nesta lista, é a nova atitude do ex-líder do grupo. No gibi vemos um Ciclope fugitivo reconstruir a escola Xavier nas ruínas do projeto Arma X e recrutar os membros descontentes dos X-Men. Em sua fase, Bendis deixa claro que o espaço entre a metáfora e a realidade se torna mais estreito do que nunca. O fator super poder é jogado para segundo plano e o que brilha é o desdobramento político das ações do personagem. A renovação do herói "escoteiro" como um tipo diferente de anti-herói, um anti-herói que simboliza e atua na luta coletiva investindo na ação proativa, quebrando com o status quo. Com habilidade, Bendis se aproxima e se afasta desse paradigma político evitando cair na relação aniquiladora entre fantasia e realidade, e com isso dá um novo frescor aos personagens e uma verdadeira sensação de mudança. Ou, como o próprio Ciclope comenta ao ser criticado pelo novo status de criminoso político: "Engano seu. Odiado. Temido. E salvando o mundo. Diga-me o que mudou.”

3 - CUBE – Marcelo d’Salete (Veneta, 2015)

Há uma relação nada sutil entre este item da lista e o anterior. Se Bendis radicaliza a metáfora dos mutantes como comentário social proativo, em Cumbe não há metáforas e nem dúvidas quanto ao posicionamento de seu autor em relação à luta contra as injustiças sociais.  Cumbe é uma exposição crua da história de resistência negra contra a sociedade escravagista no Brasil colônia. O último trabalho do quadrinista Marcelo d´Salete transporta sua temática dos excluídos e periféricos para um ambiente histórico buscando jogar uma luz muito necessária nos esforços ativos e pouco mostrados da resistência negra à escravidão.

Como é dito no próprio livro, Cumbe é uma palavra bantu que significa O Sol, O Dia, A Luz, O Fogo e também um sinônimo para Quilombo. Em três histórias que se entrecruzam, d´Salete mostra a crueldade de um sistema de trabalho forçado onde aqueles que eram obrigados a se submeter eram tratados como menos que animais, alguns enlouquecendo até tomaram a própria vida e outros tantos resistindo ativamente, dia a dia, para escapar da situação degradante de violência e retomarem a posse das próprias vidas. 

Sem metáfora.

O traço de d'Salete continua com seu vigoroso e poético preto e branco, abrindo mão de um realismo que, em qualquer nível, seria insuficiente para captar a crueza do período. Ele prefere apostar em suas áreas de tonalidades cinzentas feitas com esmero com seu pincel seco. Se em trabalhos anteriores o autor usava sua técnica para escancarar as fronteiras sociais demarcadas pelo vocabulário urbano - hora picho, hora logotipo - em Cumbe seu pincel estiliza o cenário colonial com um minimalismo ao mesmo tempo singelo e sufocante.

Os personagens de Cumbe também guardam a mesma relação paradoxal: seus rostos de limitadas expressões dão lugar ao volume ensurdecedor de suas ações. Cumbe é forte e direto sem abrir mão das suas possibilidades intersubjetivas e expõe não apenas o contraste do período colonial com o nosso presente, mas, principalmente, suas muitas semelhanças.

4 - O GRALHA: TÃO BANAL QUANTO ORIGINAL – José Aguiar e vários autores (Quadrinhópolis, 2014)

Na sequência desta lista nós temos outro quadrinho de super-herói. Aliás, um dos melhores quadrinhos de super-heróis - O Gralha, com o álbum Tão Banal Quanto Original. 

O Defensor das Araucárias é uma criação coletiva que envolve os autores Gian Danton e José Aguiar e os artistas Alessandro Dutra, Antonio Eder, Augusto Freitas, Edson Kohatsu, Luciano Lagares, Nilson Muller e Tako X. Havia muito tempo que tinha lido o primeiro álbum do personagem, lançado pela Via Lettera em 2008, e esta segunda antologia de histórias do Gralha me lembrou por que o conceito do personagem é tão divertido, sendo uma das melhores leituras do ano.

Vários autores, várias visões, o Gralha é um personagem pensado para se adequar a qualquer criador. O resultado é um quadrinho mais potente e facetado que qualquer outro gibi de super-herói. Lógico que todos os elementos do gibi de herói estão lá: Gustavo Gomes é o neto do Capitão Gralha e defende uma futurista Curitiba de uma galeria de vilões tão bizarra quanto idiossincrática - A gigante Araucária, o deformado Homem Lambrequim, o gênio do mal Craniano, o metalinguístico Homem Dor-De-Cabeça... a lista é extensa.

Esse segundo álbum dá continuidade às aventuras do personagem. Em destaque temos história "O Ovo e a Gralha", em que o macabro Craniano reflete sobre a necessidade de ser o arqui-inimigo de um herói tão abaixo de seu nível intelectual, com roteiro de José Aguiar e a bela pena de Jairo Rodriguez. A mesma dupla também narra uma história de singela beleza no divertido "Dia do Pinhão". Em "A Volta do Lambrequim", José Aguiar, acompanhado de Tako X, revela a intimidade do monstruoso Homem-Lambrequim, e na ótima "As Origens do Craniano", Aguiar, agora cuidando tanto da arte quanto dos desenhos, tenta dar uma explicação para o vilão com cabeça Pêssanka.

Como se pode perceber pelos nomes, a cultura curitibana e paranaense se tornam um dos personagens mais presentes nas histórias do Gralha, mas em momento algum estes traços regionais parecem forçados ou caricatos. Na verdade, o que diferencia o Gralha, a sua originalidade banal, é o fato de ser tão idiossincrático (uma característica de muitas produções do sul do país, como o rock sulista) que a cidade parece se destacar da realidade e se aproximar de outras metrópoles imaginárias como uma Metrópolis ou uma Gotham. Tudo isso sem perder o humor ou cair em dramas pedantes ou aventuras ufanistas sem graça. Um ponto negativo? Admito que me incomoda bastante a falta de diversidade étnica nos desenhos.

O gibi foi publicado pela Quadrinhópole e a mesma editora acabou de lançar a edição O Gralha Art Book, uma espécie de making of do personagem acompanhado de diversas pin-ups e pequenas histórias para o especial que foi patrocinado via Catarse. E em sebos ainda é possível encontrar a primeira edição do Gralha pela editora Via Lettera!

5 - HICKSVILLE – Dylan Horrocks (Drawn and Quartelly, 2010 [1998])

E por falar em idiossincrasias regionais, o quinto lugar desta lista fica para o Hicksville de Dylan Horrocks. Já falamos sobre este gibi na cobertura do FIQ, mas sua mistura de biografia à la “vida secreta dos ricos e famosos”, com um mistério envolvendo a história das HQ's no melhor estilo David Lynch, faz com que ela mereça voltar a ser citada.

A HQ acompanha o jornalista Leonard Batts em sua viagem para conhecer a cidade natal de Dick Burguer, uma estrela internacional do entretenimento hollywoodiano que chegou à fama vendendo o direito de seus quadrinhos para o cinema.

Hicksville, que também é o nome desta cidade fictícia que fica na ponta mais ao sul da Nova Zelândia, foi publicado em 1998. A edição que chegou até mim é a republicação de 2010 editada pela Draw and Quartely

e que conta com um belo capítulo inédito introdutório em quadrinhos onde Horrocks fala sobre as emoções e pulsões que levaram à criação do gibi.

Voltando à trama, Batts esbarra em uma cidade misteriosa e cheia de segredos onde aparentemente o pilar cultural de sua comunidade são as histórias em quadrinhos. De uma estalagem que conta com uma gibiteca carregada de edições raríssimas em perfeito estado até uma festa folclórica à fantasia em que toda a cidade se veste de personagens clássicos da história da HQ, Hicksville parece o sonho de qualquer apreciador de quadrinhos e leva um conceito bem conhecido da literatura para o meio dos gibis – o da biblioteca das histórias sonhadas e nunca publicadas. O resto, só lendo. Saiba mais sobre este gibi aqui.

6 - MISS: BETTER LIVING THROUGH CRIME – Philippe Thirault, Marc Riou e Mark Vigouroux. (Humanoids/DC comics, 2005 [1999])

Lançado nos estados unidos em 2005 pela finada parceria entre a Humanoids e a DC Comics,

Miss: Better Living Through Crime – álbum escrito por Philippe Tirault e com arte de Marc Riou e Mark Vigouroux – é um daqueles quadrinhos de crime que fascina tanto pela crueldade das situações, quanto pelo carisma de seus protagonistas. Numa decadente Brooklyn dos anos 20, uma órfã ruiva e um cafetão negro se juntam para sobreviver à miséria que os cerca e os empurra cada vez mais para o fundo do poço. Como resultado, viram parceiros na prestação de um serviço muito procurado tanto pela população empobrecida do local quanto pela elite que começa a se erguer dos escombros: assassinato por encomenda.

Nola, ou Miss, como é chamada por seu todos (trocadilho tanto para "senhorita" quanto um apelido dado à sua involuntária capacidade permanecer viva depois dos vários tiroteios dos quais participam) é uma personagem feminina cuja representação ultrapassa em muito o estereótipo das divas do charleston que ilustram o imaginário do período. Mãe viciada em drogas, pai falecido por abuso de álcool, criada em um convento de freiras onde cedo aprendeu a revidar, Lola é o lado negociante da dupla. O fato de ser branca é o cartão de visita para negociar com a alta sociedade de NY. Seu parceiro, Slim, é filho de uma família rica, com um irmão médico bem sucedido e várias complicações devido à sua vida como cafetão enfiado em todo tipo de negociata nas espeluncas de Brooklyn. Slim é a parte logística da dupla: sua desenvoltura no submundo complementa a dinâmica de trabalho dos dois.

Visualmente, a Nova Iorque de Miss varia entre a exuberância e as ruínas. Quadras vazias com cortiços mal acabados tomam conta da maior parte do álbum. A colorização, feita digitalmente e carregada em tons amarelos nauseantes, acentua a sensação de vazio da cidade. De certa forma, esse vazio também está presente nos personagens, de maneira mais acentuada ainda nos clientes e nas suas demandas imorais – um empresário que quer ver o filho do sócio morto, uma esposa de olho na fortuna do marido, outra que quer que a amante do marido desapareça – casos relativamente comuns que acabam levando a desdobramentos mais complicados. A dupla se vira como pode. Alguns sucessos, alguns fracassos, mas sempre com uma espécie de “nobreza” torta que ajuda a compor a dinâmica dos dois – Nola sempre direta e violenta, principalmente quando escuta que seu “empregado” deve esperar do lado de fora, e Slim sempre desvelando as hipocrisias da ascendente sociedade do Brooklyn ao assumir o trabalho que escolheu para subir na vida. Em alguns momentos, principalmente no início do álbum, algumas falas e transições entre requadros se tornam bastante confusas de entender, acredito que graças a uma dificuldade de tradução do francês para o inglês. Mesmo assim, Miss é um quadrinho certeiro, e o melhor policial que li no ano.

7 - BIG BOOK OF DEATH – Bronwyn Carlton e vários artistas (Paradox Press, 1995)

Existe um selo de quadrinhos perdido nos EUA que, embora fazendo parte do grupo Time-Warner e ligados à DC Comics, teve pouquíssimos trabalhos publicados por aqui (as edições de Gon da Conrad e A Estrada Para Perdição, para ser exato). Este selo é a Paradox Press. O carro chefe da editora é a série Factóide Books, grandes livros de antologias com historietas curtas de até cinco páginas girando em torno de um tema específico. Antes de se falar em Joe Sacco e jornalismo em quadrinhos, os Big Books da Paradox já faziam um apanhado narrativo vasto esmiuçando assuntos como discos voadores, mortes bizarras, mártires religiosos, crimes históricos, etc., com uma abordagem que mistura almanaque e documentário. A maioria dos livros é escrita por um escritor apenas e desenhada por uma vasta gama de artistas de quadrinhos do underground estadunidense, incluindo o citado Sacco.

Essa introdução é para apresentar o sétimo gibi da minha lista, o Big Book of Death. Duzentas e vinte e quatro páginas, em preto e branco, com centenas de relatos sobre a mais inescapável das sinas. O álbum, como todos os Big Books, mistura um relato aprofundado com uma arte que varia do realismo ao cartum resultando em diversão garantida (e fúnebre).

Os contos são organizados por temas: o primeiro capítulo conta a história do assassinato oficial, as execuções capitais, sua história e principais práticas. Este capítulo é de abrir os olhos para a maneira com que a lei evoluiu até nosso século XXI, deixando para trás algumas execuções extremamente doentias, como o pressionamento – onde o condenado se deita em uma cama de lâminas, seu corpo é coberto por uma tábua que cobre seu torso, e são colocados sobre a tábua vários pesos, vagarosamente, até que o corpo seja esmagado e perfurado. Enquanto o condenado ainda vive.

O segundo capítulo foca o homicídio criminoso e o suicídio. Mortes idiotas, cidadãos acima de quaisquer suspeitas que escondem um lado assassino brutal, a história da eutanásia, etc.

No terceiro capítulo temos os assassinatos em massa, as pragas históricas, tuberculose, febre tifóide, morte negra. As guerras e suas grandes matanças, as mortes religiosas e cultos suicidas.

O quarto capítulo se dedica aos falecimentos peculiares. Mortes inexplicáveis, combustões espontâneas, e todo tipo de morte bizarra.

O quinto capítulo, e um dos mais interessantes, revela a ciência da morte, seus limites biológicos e

 químicos, como funciona o exame da autópsia e as formas de preservação dos corpos.

O sexto capítulo faz um tour pelos cemitérios mais famosos ou bizarros do mundo, os museus da morte, e a morte como turismo.

O sétimo capítulo foca nas maneiras históricas e atuais de se desfazer de corpos, desde os enterros ritualísticos até os métodos da máfia italiana.

O oitavo capítulo aborda os costumes culturais envolvendo os mortos em todo mundo, e, finalizando, o nono capítulo fecha o livro com contos que abordam o que há, ou se há, algo após a morte.

É diversão garantida! Todos os textos foram escritos pela escritora Bronwyn Carlton, especializada em literatura criminal e forense, e as artes são feitas por um desfile de talentos como Craig Hamilton, D´Israeli, Rick Geary, Steve Bucellato, Linda Medley, Mark Badger, Joe Orlando, Hunt Emerson, e muitos outros. Recomendo também o fabuloso Big Book of Unexplained, onde o escritor de quadrinhos Doug Moench, junto com vários artistas, o levam a um passeio pelo mundo do estranho e bizarro, e eventualmente charlatanesco. Sempre com um bom humor negro e ironia.

8 - MARCO, O MACACO DO ESPAÇO - Daniel Lopes (Mês, 2014)

Em um mundo perfeito, a viagem do macaco Marco pelos confins da galáxia seria uma publicação semanal em coloridos suplementos de quadrinhos dominicais.

O álbum de Daniel Lopes, mais um grande trabalho saído do fanzine Mês (por motivos puramente cronológicos, o álbum O Aguardado, do também mensaleiro Augusto Botelho, não entra nesta lista) reúne os quadrinhos que foram publicados em um ano de produção em uma versão colorida e luxuosa.

Marco é o nome de um dos primeiros macacos lançado ao espaço pelos terrestres. Seu corpo já falecido é encontrado pelos pacíficos e avançados Vimanaranos que, por sua vez, o reabilitam e o evoluem ao máximo de sua capacidade física e intelectual. O que se segue é uma homenagem aos quadrinhos do passado, com todo um clima de ficção científica dos seriados de cinema e um ritmo sempre acelerado, mas sem esbarrar em um pastiche de referências visuais estéreis amarradas para acionar glândulas nostálgicas.

O Macaco do Espaço é um estudo do quadrinho clássico, dos heróis da ficção científica do início do século XX, mas sua existência e qualidade nos dias de hoje se deve ao fato de ser um catálogo desses mesmos quadrinhos. No espaço, o primata sofre de muitas das provações e desventuras que ocorrem nas tiras de space opera, mas sempre ao seu jeito, com o seu ponto de vista. Sempre calado, pensativo e atuante. O problema maior deste quadrinho é sua duração. O personagem tem potencial para ter uma epopeia em quadrinhos, mas o final acaba de forma abrupta, e o excesso de extras acaba fazendo você desejar mais histórias na edição. Mesmo assim, Marco o Macaco do Espaço é viciante como eram os quadrinhos de outrora. Uma leitura recompensadora.

9 - EC ARCHIVES: TWO FISTED TALES VOLUME 2 – Harvey Kurtzman e vários artistas (Gemstone Publishing, 2011 [1951-52])

Em nono lugar na lista das melhores leituras do ano de 2015 está o encadernado The EC Archives Two Fisted Tales Volume 2, reimprimindo em alta qualidade as edições de 7 a 12 da série de guerra da EC Comics. Sobre a EC é dispensável falar, se você está lendo este texto até aqui é por que sabe de cor o papel da editora em revolucionar o quadrinho no mundo, capitaneada pelas mãos de Bill Gaines

. A coletânea é da Gemstone Publishing, e a qualidade da edição é de cair queixo: papel luxuoso e capa dura. A colorização, infelizmente, não é a original (realizada pela lenda Marie Severin) mas segue seu estilo obsessivamente, mantendo o clima das edições originais e dando uma aula de cor para as edições de arquivo das grandes editoras norte americanas.

Todas as histórias foram concebidas, escritas e editadas pelo genial Harvey Kurtzman, e são uma janela nefasta para o que ocorria nos fronts em que os EUA estavam envolvidos. Entre os destaques da edição estão "Rubble!", com arte de Kurtzman, onde vemos a saga de um pai de família norte-coreano em construir, pedra por pedra, a casa de sua família apenas para que tudo, a família e a casa, deixem de existir. A narrativa é um duelo de onomatopeias onde os sons destrutivos da guerra atropelam os miúdos chiados, rastejos e marteladas que levantaram um lar. Esta história vai ser homenageada pela dupla Jason Aaron e R. M. Guera em uma edição fechada de Scalped mais recentemente. Em "Corpse on the Imjin", também com arte de Kurtzman, temos uma reflexão sobre a vida e a morte durante tempos de guerra. Como o espetáculo da morte, mesmo no caso de um corpo flutuante no rio Imjin, pode ofuscar a vida, ainda mais na soturna rotina da guerra: “Muitas coisas bóiam no Imjin! Madeira velha, caixas de munição, embalagens de ração, cápsulas de bala!… nós ignoramos estes destroços flutuantes! Por que então, um corpo sem vida chama tanto a atenção do nosso olhar?... bom, apesar de esquecermos, a vida É preciosa, e a morte é horrível e nunca passa despercebida!” Um quadrinho angustiante. Este material, entre outros da EC, estão na lista dos quadrinhos com mais urgência de serem publicados no Brasil. Já está na hora de alguma editora tomar a frente desse projeto e trazer o catálogo da EC para cá, principalmente o material de crime e guerra.

10 - MULTIVERSITY – Grant Morrison e vários artistas (DC Comics, 2014-2015)

Fechando essa lista está mais uma história de super-heróis, e, pior ainda, uma história de uma das grandes editoras! Mas, inegavelmente, os especiais de série Multiversity estão entre os melhores e mais instigantes quadrinhos que li em 2015. Escrita por Grant Morrison e com arte de vários artistas, a minissérie conta a história de um perigo tão grande que obriga heróis de várias dimensões a se unirem pra resolver o problema. Essa parte é dispensável. É interessante como Morrison abusa das metáforas para mostrar como a super comercialização dos heróis, as preocupações do mundo real e os limites editoriais estão matando o quadrinho de super-poder. Os monstros que ameaçam a realidade da história são a corporificação desses problemas e são chamados de The Gentry, uma crítica direta da gentrificação realizada no meio pelos grandes estúdios que chegam desconstruindo e reformatando os personagens. Interessante, mas dispensável, já que acaba por levar a uma outra história sem fim. O que é realmente interessante é o intricado multiverso que Morrison constrói e como cada edição especial é carregada da criatividade e da ousadia narrativa que são a marca do autor. Publicada em sete capítulos e mais um guia do multiverso, cada edição da minissérie é uma janela para um mundo paralelo do universo DC que se encontra às margens da destruição total, e temos até uma edição que se passa no “nosso” mundo e que tenta esclarecer a noção de “super-herói” que o autor prega.

Em destaque temos os deliciosos S.O.S. e Thunderworld, um universo de aventura pulp e o mundo de Shazam, respectivamente. Poucos trabalhos do autor são tão diretos quanto estas edições. Em Society Of Super-Heroes, com a belíssima arte de Chris Sprouse, um grupo de aventureiros se reúne para evitar um armagedom inca, e falham. Em Thunderworld, junto com Cameron Stewart, Morrison mostra como se faz história de super-heróis do jeito certo – muita aventura e um otimismo infantil que faz com que os heróis lutem com um sorriso no rosto mesmo diante da invasão final de Doutores Silvana de todas as dimensões.

De acordo com o mapa que o autor desenvolveu, o posicionamento da dimensão em relação a ele

 indica o quanto de realismo ou ingenuidade uma determinada dimensão agrega. No lado diametralmente oposto ao sonho juvenil dos Marvels está a edição Pax Americana, uma crítica quadrinística cifrada endereçada a Alan Moore. Retomando sua parceria com Frank Quitely, em Pax há uma intenção clara de ser uma interpretação de Watchmen. A dimensão em que se passa a história é a da Charlton Comics, lar do Besouro Azul, do Questão e do Capitão Marvel, a matriz original da série da obra-prima de Moore. Pax é uma pequena obra-prima em si mesmo, mas seu hermetismo e obsessão acabam por diluir o prazer da leitura. Mesmo assim o roteiro levanta vários questionamentos interessantes, como o momento onde explica o sucesso dos filmes de super-heróis: “Após a queda das torres, nós vendemos sonhos infantis para adultos amedrontados.” Questão e Capitão Átomo são outros destaques da revista, mas valem ser lidos e não narrados aqui.

Ultra Comics e O Guia do Multiverso são os capítulos mais metalinguísticos. Ultra Comics é o herói criado em um mundo sem super-heróis. Na verdade trata-se de uma revista em quadrinhos com uma ideia memética que funciona como um super-protetor psicológico que é acionado quando a revista é lida. Um capítulo muito interessante e que merece ser lido duas vezes para ter o efeito desejado. O guia é um passeio pelas diversas outras dimensões concebidas pelo escritor. Temos também The Just, uma deliciosa dimensão onde os anos 90 nunca acabaram e os filhos dos heróis desse período reencenam as lutas clássicas de seus pais enquanto festejam como adolescentes ricos. Uma homenagem ao Reino do Amanhã e aos anos Image da DC. Fica faltando apenas Mastermen, uma dimensão onde o foguete de Super-homem cai na Alemanha e o presente é dominado pelo terceiro Reich. Os heróis que resistem são considerados terroristas e há uma boa emulação de como a realidade pode ser distorcida entre um país e outro. Mas, nesse sentido, o Bendis lá no começo desta lista fez muito melhor. Multiversity está sendo publicada no Brasil pela Panini no mix picareta da série Multiverso DC.

É isso meus caros! Até a próxima.