Aventuras na Ilha do Tesouro
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Pedro Cobiaco
(Mino, 2015, 144 p.): De certa forma, a graphic Aventuras na ilha do tesouro, de Pedro Cobiaco (filho do Fábio), e a série O beijo adolescente, de Rafael Coutinho, tratam da mesma reflexão: a difícil tarefa de esquadrinhar ou compreender as growing pains da nova geração de adultos (Y ou millenial) a partir de referências internas, de um pensamento endógeno a eles próprios. Ambos acabam recaindo em uma estrutura fabulística ou mítica, aproveitando elementos da cultura pop ligados a esta galera (os super-heróis no Beijo; uma coisa Alice meets Hora de Aventura no Ilha) para criar uma história eminentemente metafórica, mas ao mesmo tempo muito divertida, sobre este conflito de gerações. Ambos também carregam nas tintas psicodélicas para construir um imaginário vívido, elástico, com uma profusão intensa de camadas visuais e cores, dotando esta geração com uma racionalidade e intuição propriamente lisérgicas, algo que reverbera em suas ações políticas, sua sexualidade, sua identificação com o mundo.
A grande diferença é que Coutinho, muito mais velho, faz algo mais pensado e intelectual, com referências à historiografia de ouro dos quadrinhos e uma trama elaborada a longo prazo, com arcos narrativos delineados e conflitos que se desdobram dentro de certos padrões de previsibilidade. É um experimento de epistemologias geracionais (por assim dizer) que se encontram, mas não se tocam: O beijo adolescente é a própria cidade de Kandor
que Coutinho cultiva dentro de sua redoma, e isso traz vantagens e desvantagens em relação a Aventuras na ilha do tesouro, que tem uma pulsão muito mais voraz e selvagem. Ler este trabalho se parece mais, na própria sensitividade da coisa, com uma projeção para dentro da cabeça dos millenials. Não é à toa. Cobiaco tem 20 anos de idade, e todo esse desaguar psicodélico se espraia em referências, possibilidades e desdobramentos estéticos. Trata-se de uma história livre, à deriva, desenfreada, por vezes sem lógica, sem função, afogada num oceano de emoções.