Algumas palavras... antes de Before Watchmen
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Sim, ficamos um mês de férias, sem avisar. Deem um desconto. O povo aqui tem vida. Mas tem mais coisa pra mostrar em Raio Laser. Preguiçosamente, depois dos nossos orgulhosos dois dias de Omelete, retornamos. E quem puxa o bonde é o colaborador Lima Neto, dono da Kingdom Comics, figura onipotente das HQs em Brasília, etc, etc ("bocejo") que traz texto reflexivo, com enorme potencial de polêmicas, sobre a famigerada "Before Watchmen" (eu, na minha humilde desatenção, digo que parece maneiro). Gostaria de salientar que tenho orgulho de ter Lima como colega no PPG-COM da UnB. Valeu Limão! (CIM)
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por Lima Neto
“Os
quadrinhos são os filhos bastardos da imprensa com o mercado” disse Art Spiegelman
certa vez (Art Spiegelman, caso você tenha entrado neste site por engano à
procura de promoções em tratamento estético a laser, é um dos principais
quadrinistas a chamar a atenção do grande público para a arte das HQ´s, e seu
potencial é para abordar temas mais sérios e espinhosos como campos de
concentração e antissemitismo, caso de sua obra-prima Maus). E como mercado e HQ´s mainstream são meus assuntospreferidos para tratar aqui, evoco a fala de Spiegelman e acrescento que estes
filhos, em sua encarnação mais mercadológica – os comics norte-americanos – além
da sua infeliz condição de bastardos, estão passando hoje por um momento de
exploração intensiva e abusiva por parte dos grandes conglomerados do
entretenimento, acrescentando a uma relação incestuosa (como coloca Alan Moore)
um nível só visto antes na aurora da indústria dos comics.
Nem
preciso dizer que este projeto incendiou os fóruns e a imprensa especializada,
e que isso irritou bastante Alan Moore, que já havia se posicionado contra
qualquer utilização da história em projetos caça-níqueis posteriores. E que,
enquanto o editor Paul Levitz capitaneava a editora, este acordo de cavalheiros
se manteve inalterado até a Time Warner decidir que deveria assumir as rédeas
administrativas daquela pequena editora que possuíam e que mal rendia lucros
com suas vendas (lógico, falo isso dentro da ótica agigantada de um monstro
corporativo do porte da Warner), mas que tinha propriedades criativas que lhe
rendiam bilhões de dólares nas portas dos cinemas e nas lojas de brinquedos.
Além destes títulos ainda temos Brian Azarello em colaboração
com seu parceiro de trabalho Lee Bermejo em uma série de Rorchach e, tendo J.
G. Jones com colaborador, uma série do Comediante. O já citado Lein Wein fará dois títulos, uma
série de Ozimandias com a soturna arte de Jae Lee; e uma revista misteriosa
chamada Crimson Corsair desenhada por
John Higgins. J. Michael Strazinsky estará por trás dos roteiros de uma série
do Doutor Manhattan, ilustrado com a bela arte de Adam Hughes e também da série
de Nite Owl, que conta com o lápis de Andy Kubert e o nanquim de seu pai, o
mestre Joe Kubert (que cairia melhor, talvez, no título do Comediante).
Obviamente,
junto a esse projeto já estão programados estátuas e figuras de ação produzidas
pela DC Direct, ramo da DC comics que cuida dos produtos colecionáveis. Aliás,
este mês também a DC Direct mudou de nome, e agora atende por DC Collectibles. A troca do nome atende às mudanças que a nova
direção impôs, afinal, colecionismo doentio é uma das modas propagadas pela principal
vitrine da DC: o seriado Big Bang Theory. Mudar o nome é uma ótima estratégia
para guiar o público da série para o setor da empresa que transforma o hobby em
moda e estilo de vida.
Na
contramão disso tudo, autores independentes têm encontrado na net um terreno
fértil para publicarem seu trabalho. Tão fértil, que é preciso muitas horas
livres para garimpar as perolas potenciais deste novo meio. Meio este que
também é responsável pelo grosso do prejuízo que os conglomerados midiáticos
monstruosos vêm sofrendo com a distribuição gratuita de filmes e scans de
gibis. Se isso é bom ou ruim é outra complexa discussão, mas que, graças ao
escritor Mark Waid, seu novo blog de opinião e seu novo cargo como coordenador
do selo Marvel Infinity de quadrinhos desenvolvidos direto para tablets e iphones,
tentaremos pincelar no nosso próximo texto. Concluo imaginando, em um futuro
bem próximo, um Alan Moore bonachão liberando na net as páginas de Before
Watchmen para todos que quiserem matar a curiosidade de ler estas homenagens à
sua obra. E cobrando o preço justo que uma obra não autorizada deve ter.