MELHORES LEITURAS DE 2023 POR LIMA NETO

MELHORES LEITURAS DE 2023 POR LIMA NETO

 Um dos grandes mitos da crítica em geral é a ideia de que existe uma neutralidade envolvida nesse trabalho. Hora, se não existe neutralidade nas escolhas do cientista, imagine naquelas feitas pelo crítico. Entender isso é salubre para todos os envolvidos. Aqui mesmo no nosso querido blog encontramos diferentes perfis de ponto de vista. Há aqueles que são totalmente refratários a pensar uma obra sob qualquer ótica que não a da expressão artística. Outros tendem a enxergar valor nas hq´s com potencial didático ou em narrativas com ambições mais alinhadas às da literatura. O importante é ter clareza do que é o objeto em que nos debruçamos: as histórias em quadrinhos. Esclarecendo, esta é uma lista de leituras do ano. Embora tenha alguns lançamentos, boa parte dela é feita de material publicado em anos anteriores e inclusive fora do Brasil. Tendo isso em mente, vamos nessa:

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GESTO QUE LÊ DESVENDANDO OBJETO: METALINGUAGEM NOS QUADRINHOS EM TRÊS MOMENTOS

GESTO QUE LÊ DESVENDANDO OBJETO: METALINGUAGEM NOS QUADRINHOS EM TRÊS MOMENTOS

por Lima Neto

A palavra “meta” nunca esteve tão popular. Posso estar enganado, lógico. Mas é fato que consumidores de cultura (ou de conteúdo, dependendo do seu nível de assepsia) estão tão familiarizados com o termo “meta” que este já se tornou praticamente uma gíria. Nenhum problema com isso. Na verdade, para este que está lhes escrevendo, a metalinguagem sempre foi um fenômeno fantástico, quase místico, e poder vê-la assim tão pedestre e disponível é um sinal positivo. Sinal de que, de uma forma ou de outra, as pessoas estão pensando sobre o que consomem. Mesmo na forma de um filme do Deadpool, um episódio de Rick e Morty ou Fleabag, a presença até mesmo da metalinguagem mais domesticada implica em uma obra que está pensando a si mesma. É essa ilusão de autonomia da obra que me assombra e seduz, e os quadrinhos são mestres no uso desse recurso desde seus primeiros passos. Mas esse texto não vai resgatar essa história. Vamos por outro caminho.

Talvez compreender o termo “meta” para além da gíria - e com certeza para além do Zuckerberg – ajude a achar uma forma de ser mais ciente de si dentro desse salão de espelhos que é nosso presente.

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Foda-se a live! Denny O’Neil está morto!

Foda-se a live! Denny O’Neil está morto!

Denny O’Neil deixa um grande legado, que se estende até o cinema de super-heróis. Lembro de brigar com um colega de classe em 1989 pois este não queria ver o filme do Batman e achava que era coisa de criança. A sombra colorida do Batman de Adam West tinha muita força nos anos 80, e nada é mais humilhante pra uma criança do que ser chamada de criança. No outro dia lembro de ter levado um gibi do Batman da Abril pra mostrar pra esse colega. Era uma edição escrita por O’Neil e com arte do Neil Adams. Não me recordo a história, mas me lembro claramente da cara desse meu colega quando viu que podia gostar de Batman agora que não era mais coisa de criança. Mas esta nem é a questão. Enquanto termino esse texto o celular continua vibrando. Um dos meus amigos é informado que precisa participar agora de uma live na internet. A resposta não poderia atestar de forma mais clara a perda que O’Neil representa para quem gosta de gibi: “Foda-se a live! Denny O’Neil está morto.”

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Obituário: Howard Cruse (1944-2019), pioneiro dos quadrinhos queer norte-americanos

Obituário: Howard Cruse (1944-2019), pioneiro dos quadrinhos queer norte-americanos

O movimento dos quadrinhos underground dos Estados Unidos não deu espaço apenas para os dropadores de ácido e esquisitões expressarem suas paranoias e viagens lisérgicas nas páginas de HQ. Eles também abriram as portas para gays e lésbicas construírem cantinhos aconchegantes e sexys para uma crescente parcela da população que engatinhava para autoaceitação durante a revolução sexual em curso e propulsionados pelos movimentos de direitos civis. Um dos pioneiros desse levante, Howard Cruse, faleceu no dia 26 de novembro após uma longa batalha contra o câncer. 

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Quadrinhos para quem?

Quadrinhos para quem?

Como disse na primeira linha do texto, tenho uma relação afetiva com as HQ’s. Isso me coloca na categoria dos entusiastas. Somos leitores cuja experiência com os quadrinhos foi de tal modo distinta que transcendeu as finalidades mais banais dos gibis, como passatempo ou um colecionismo completista. Não se trata aqui de algo que se adquire com o tempo, mas sim de uma identificação com a linguagem que é marcada pela curiosidade. São leitores e leitoras que não se fixam a um gênero específico, mas que se interessam pelas diferentes facetas dos quadrinhos. Estão presentes nas feiras e nas bancas, consomem e dão feedback constante sobre aquilo que leem. Para estes leitores, o quadrinho impresso ainda é de grande valor, embora consumam quadrinhos eletrônicos da mesma forma. Eles se esforçam em distinguir valores artísticos nas páginas. Seja uma beleza clássica de um Alex Raymond ou o experimentalismo indie de um Chris Ware.

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